sábado, 30 de julho de 2016

E se fôssemos à questão essencial?

 

O futuro é também feminino? As mulheres na Igreja e na teologia
Lucetta Scaraffia
Editora: Paulinas
ISBN: 978-989-673-523-4
Páginas: 104
9,50€

Sinopse da editora
O lugar da mulher na Igreja não é uma questão nova, nem simples. Porque não se trata apenas de possibilitar à mulher lugares de prestígio e de poder, até agora negados, mas, sobretudo, penetrar no âmago do próprio Cristianismo: no «criou-os homem e mulher», que nos restitui a imagem completa de Deus; naquela audácia original dos Evangelhos, que narram as relações revolucionárias de Jesus com mulheres da Galileia patriarcal. Em suma, o Cristianismo deve voltar à novidade impetuosa das suas origens e, de certo modo, devolver o dom recebido durante séculos. É esta a disposição que anima os autores das intervenções aqui recolhidas, homens e mulheres, que, aceitando o convite do papa Francisco para se envolverem numa «profunda teologia da mulher», dialogam entre eles e destacam perspetivas, questionamentos, exemplos e propostas de vida.

As minhas impressões
Nota prévia: Só li com atenção o preâmbulo (pág. 4 e 5), que não sei de quem é, mas imagino, e a apresentação (pág. 7-10). De resto, seguindo aquela máxima que diz que “se não souberes que crítica fazer ao livro, lê-o”, limitei-me a dar uma vista de olhos aos 10 ensaios que o compõem.
E o que me parece é que andam às voltinhas em vez de discutirem a questão essencial, que é: As mulheres podem ser ordenadas ou não? Lucetta Scaraffia, no texto de apresentação, bem tenta convencer-nos de que não adianta abordar tal questão. Ou antes, que a questão das mulheres na Igreja tem de ser posta a partir da impossibilidade de ordenação. Escreve ela, nas linhas finais: “A condição feminina na Igreja, isto é, a impossibilidade de «fazer carreira», conduz muitas vezes a uma condição de extraordinária liberdade e profundidade espiritual. Seria verdadeiramente lamentável prescindir dela”. Ou seja, a abordagem do livro é: As coisas são como são e as mulheres não podem ser ordenadas. Posto, isto, há muito a discutir sobre o lugar da mulher na Igreja. Há muito por onde avançar.

Scaraffia não o diz, mas parece partilhar a ideia de Bento XVI, na entrevista que deu no livro “Sal da Terra” (ed. Multinova), segundo a qual, abusando do pensamento de uma teóloga feminista, diz que “ordination” (de mulheres) é “sub-ordination” (para as mulheres). Digo que Ratzinger abusa do pensamento de Elisabeth Schüssler Fiorenza porque a teóloga queria ultrapassar o paradigma da ordenação para ambos os sexos, enquanto Ratzinger queria continuar a negá-la às mulheres. Ambos podem afirmar algo do género: “Não queremos clericalizar as mulheres”, que é o que hoje muitos dizem, mas por razões e com objetivos diferentes. (Já agora, porque também neste livro se diz que não é bom clericalizar as mulheres, pergunto: É bom clericalizar os homens? Se não é bom para elas, porque é que eles aceitam para eles? É preciso desclericalizar os ordenados?)

O meu ponto, e não estou só, é que podem discutir tudo o que quiserem sobre as mulheres na Igreja. Enquanto elas não puderem presidir à Eucaristia, nada de substancial muda. Enquanto não puderem presidir à Eucaristia, a Igreja continuará a ser mais masculina do que feminina. Ou, como alguns preferem, patriarcal. Enquanto não puderem presidir à Eucaristia, não podem estar à frente de paróquias (mesmo que façam o trabalho todo), participar em conselhos presbiterais, estar à frente de dioceses, participar nos sínodos ou concílios com direito pleno, participar na eleição de um sucessor ou sucessora de Pedro. Podem dar-lhes secretariados, faculdades, institutos, jornais, tribunais, ipss, etc., etc., que estarão sempre dependentes de um padre ou um bispo. De um homem sacramentalmente ordenado.

Compreendo a lógica de livros deste género, que é a de alargar os campos do possível. Mas nada de importante ou qualitativo muda, se houver um campo fechado a sete chaves, como dizem que é o da ordenação feminina. O próprio Papa Francisco disse que a porta está fechada e que não a pode abrir. Às vezes penso que ele faz tais afirmações, ao mesmo tempo que diz que “é necessário fazer uma profunda teologia da mulher”, para que um dia se chegue a aceitar a ordenação feminina. Faz lembrar o que um dia ouvi de um padre jesuíta: “Não se sabe quando é que a Igreja vai ordenar mulheres, mas já se sabe como é que começa o documento que aprova a ordenação. É assim: «Como sempre defendeu a tradição da Igreja…»”

E o conteúdo do livro? É este:
“Um amadurecimento especial da semente evangélica”, por Piearangelo Sequeri
“A diferente vocação da mulher”, por Maria Voce
“Um papel ao serviço da Igreja”, por Barbara Hallensleben
“Relações redimidas entre os sexos”, por Sara Butler
“A mulher pensa por si própria”, por Cristiana Dobner
“Compreender plenamente a transformação”, por Robert Peter Imbelli
“As questões das mulheres”, por Elzbieta Adamiak
Colaboradoras do Criados, por Catherine Aubin
“Para ser fazer uma profunda teologia da mulher”, mesa-redonda com Lucetta Scaraffia, Maurizio Gronchi, Antonella Lumini, Marinella Perroni, Luisa Muraro e Damiano Marzotto

A quem pode interessar o livro
- às católicas descontentes com a situação da mulher na igreja
- aos líderes cristãos, responsáveis, na linha deste livro, por alguma mudança
- quem se preocupa com géneros, inclusão, descriminação, diferenças e complementaridades
- quem quer uma Igreja com mais mulheres nos lugares de decisão, sabendo, no entanto que, como as coisas estão, haverá sempre lugares que lhes estão vedados.

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