O futuro é também feminino? As mulheres na Igreja e na
teologia
Lucetta Scaraffia
Editora: Paulinas
ISBN: 978-989-673-523-4
Páginas: 104
9,50€
Sinopse da editora
O lugar da mulher na Igreja não é uma questão nova, nem
simples. Porque não se trata apenas de possibilitar à mulher lugares de
prestígio e de poder, até agora negados, mas, sobretudo, penetrar no âmago do
próprio Cristianismo: no «criou-os homem e mulher», que nos restitui a imagem
completa de Deus; naquela audácia original dos Evangelhos, que narram as
relações revolucionárias de Jesus com mulheres da Galileia patriarcal. Em suma,
o Cristianismo deve voltar à novidade impetuosa das suas origens e, de certo
modo, devolver o dom recebido durante séculos. É esta a disposição que anima os
autores das intervenções aqui recolhidas, homens e mulheres, que, aceitando o
convite do papa Francisco para se envolverem numa «profunda teologia da
mulher», dialogam entre eles e destacam perspetivas, questionamentos, exemplos
e propostas de vida.
As minhas impressões
Nota prévia: Só li com atenção o preâmbulo (pág. 4 e 5), que
não sei de quem é, mas imagino, e a apresentação (pág. 7-10). De resto,
seguindo aquela máxima que diz que “se não souberes que crítica fazer ao livro,
lê-o”, limitei-me a dar uma vista de olhos aos 10 ensaios que o compõem.
E o que me parece é que andam às voltinhas em vez de discutirem
a questão essencial, que é: As mulheres podem ser ordenadas ou não? Lucetta Scaraffia,
no texto de apresentação, bem tenta convencer-nos de que não adianta abordar
tal questão. Ou antes, que a questão das mulheres na Igreja tem de ser posta a
partir da impossibilidade de ordenação. Escreve ela, nas linhas finais: “A
condição feminina na Igreja, isto é, a impossibilidade de «fazer carreira»,
conduz muitas vezes a uma condição de extraordinária liberdade e profundidade
espiritual. Seria verdadeiramente lamentável prescindir dela”. Ou seja, a
abordagem do livro é: As coisas são como
são e as mulheres não podem ser ordenadas. Posto, isto, há muito a discutir sobre
o lugar da mulher na Igreja. Há muito por onde avançar.
Scaraffia não o diz, mas parece partilhar a ideia de Bento
XVI, na entrevista que deu no livro “Sal da Terra” (ed. Multinova), segundo a
qual, abusando do pensamento de uma teóloga feminista, diz que “ordination” (de
mulheres) é “sub-ordination” (para as mulheres). Digo que Ratzinger abusa do
pensamento de Elisabeth Schüssler Fiorenza porque a teóloga queria ultrapassar o
paradigma da ordenação para ambos os sexos, enquanto Ratzinger queria continuar
a negá-la às mulheres. Ambos podem afirmar algo do género: “Não queremos
clericalizar as mulheres”, que é o que hoje muitos dizem, mas por razões e com
objetivos diferentes. (Já agora, porque também neste livro se diz que não é bom
clericalizar as mulheres, pergunto: É bom clericalizar os homens? Se não é bom
para elas, porque é que eles aceitam para eles? É preciso desclericalizar os
ordenados?)
O meu ponto, e não estou só, é que podem discutir tudo o que
quiserem sobre as mulheres na Igreja. Enquanto elas não puderem presidir à
Eucaristia, nada de substancial muda. Enquanto não puderem presidir à
Eucaristia, a Igreja continuará a ser mais masculina do que feminina. Ou, como
alguns preferem, patriarcal. Enquanto não puderem presidir à Eucaristia, não
podem estar à frente de paróquias (mesmo que façam o trabalho todo), participar
em conselhos presbiterais, estar à frente de dioceses, participar nos sínodos
ou concílios com direito pleno, participar na eleição de um sucessor ou
sucessora de Pedro. Podem dar-lhes secretariados, faculdades, institutos, jornais,
tribunais, ipss, etc., etc., que estarão sempre dependentes de um padre ou um bispo.
De um homem sacramentalmente ordenado.
Compreendo a lógica de livros deste género, que é a de
alargar os campos do possível. Mas nada de importante ou qualitativo muda, se houver
um campo fechado a sete chaves, como dizem que é o da ordenação feminina. O próprio
Papa Francisco disse que a porta está fechada e que não a pode abrir. Às vezes
penso que ele faz tais afirmações, ao mesmo tempo que diz que “é necessário
fazer uma profunda teologia da mulher”, para que um dia se chegue a aceitar a
ordenação feminina. Faz lembrar o que um dia ouvi de um padre jesuíta: “Não se
sabe quando é que a Igreja vai ordenar mulheres, mas já se sabe como é que
começa o documento que aprova a ordenação. É assim: «Como sempre defendeu a tradição
da Igreja…»”
E o conteúdo do livro? É este:
“Um amadurecimento especial da semente evangélica”, por
Piearangelo Sequeri
“A diferente vocação da mulher”, por Maria Voce
“Um papel ao serviço da Igreja”, por Barbara Hallensleben
“Relações redimidas entre os sexos”, por Sara Butler
“A mulher pensa por si própria”, por Cristiana Dobner
“Compreender plenamente a transformação”, por Robert Peter
Imbelli
“As questões das mulheres”, por Elzbieta Adamiak
Colaboradoras do Criados, por Catherine Aubin
“Para ser fazer uma profunda teologia da mulher”, mesa-redonda
com Lucetta Scaraffia, Maurizio Gronchi, Antonella Lumini, Marinella Perroni, Luisa
Muraro e Damiano Marzotto
A quem pode
interessar o livro
- às católicas descontentes com a situação da mulher na
igreja
- aos líderes cristãos, responsáveis, na linha deste livro,
por alguma mudança
- quem se preocupa com géneros, inclusão, descriminação,
diferenças e complementaridades
- quem quer uma Igreja com mais mulheres nos lugares de
decisão, sabendo, no entanto que, como as coisas estão, haverá sempre lugares
que lhes estão vedados.